sábado, 11 de abril de 2009

Eterna Madragoa

“À beira do Tejo, Madragoa sempre foi um local de cruzamento de raças e culturas diferentes, sem distinção, albergava os negros que amanhavam os campos e dava abrigo aos pescadores que fainavam no rio, e, na memória dos mais velhos, ainda ecoa o pregão das varinas”

A lenda conta que o bairro nasceu dos milhares de grãos de areia que as gaivotas transportaram para ali. A origem do nome perde-se no tempo. Há quem afirme que a palavra corresponde ao apelido de uma fidalga madeirense “Mandragam” ou que vem de “Madre de Goa”.

Antes do terramoto, no século XVll, o bairro tinha o nome de “Moçambo” e não era mais do que uma pequena póvoa habitada essencialmente por pessoas de origem africana. No passado, parte da Madragoa foi um aglomerado de conventos e palácios, onde viveram as Trinas, as Bernardas ou as Inglezinhas. Ms foram os trabalhadores que deram vida ao bairro. Entre os séculos XVlll e XlX, a população sofreu grandes alterações. Nessa altura, veio para Lisboa muita gente da região da ria de Aveiro, em especial de Ovar, daí o nome ovarinas. Comercializavam legumes frescos e peixe. Posteriormente, grande parte destas pessoas optou por ficar na Madragoa. Na maioria, eram casais de pescadores e varinas. Era habitual ouvi-las apregoarem o peixe de canastra à cabeça.

De entre muitas das obras arquitectónicas da Madragoa, destaca-se o Palácio dos Duques de Aveiro, a Casa dos Marqueses de Abrantes e a mais antiga e modesta das capelas lisboetas, a dos Mártires. Também lá se encontra a Embaixada de França, onde Gil Vicente (depois do Castelo de São Jorge), deu início ao teatro português.

No coração do bairro, está a sede do Esperança Atlético Clube, fundado a 16 de Agosto de 1936. O clube organiza muitas iniciativas no campo cultural, como é o caso da Festa de São Martinho, do Dia da Criança ou da Festa de Natal. E desde 1982, o Esperança Atlético Clube é responsável pela organização das marchas populares da Madragoa. Em 1988, alcançou o primeiro Prémio de Canto e o segundo lugar na classificação global. No ano a seguir, o clube atingiu o quarto lugar da global e o primeiro Prémio de Coreografia.

MARCHA DA MADRAGOA
(Marcha Nova da Madragoa)
Letra de Frederico de Brito
Música de Raúl Ferrão

Hoje é que a marcha vai
Que a Madragoa é linda
Vai de chinela vai
Pois é varina ainda.
*
Leva um arco e um balão
Perna ao léu, e toca a andar,
É que a Madragoa,
Corre Lisboa...Sempre a cantar.
*
Uma varina tem
Um riso bom que alastra;
Se uma tristeza vem,
Cabe-lhe na canastra.
*
Arraiais de São João,
Quem os tem para nos dar ?
Só este bairro infindo
Que é o mais lindo Da beira mar.
*
Andam balões no ar,
Quem é que não alcança
A espr’ança de os achar,
Aqui na velha Espr’ança.
*
Dê a volta pelas Madres,
P’lo Castelo do Picão,
Venha bailar com ela,
À luz da vela, Do meu balão.
*
E se quiser cantar
O vira das varinas,
Já não precisa andar
Cantando pelas esquinas;
*
Vai pedir ao Guarda-Mor
Que lhe guarde uma qualquer,
Que tenha nos olhitos,
Os mais bonitos ,Balões que houver.
*
(refrão)
Cabe toda a Lisboa
Na Madragoa
Que é pequenina;
E a Madragoa calma
Cabe na alma duma varina.
Sem que ninguém a gabe,
Tem não sei quê no jeito.
Só o meu bairro sabe,
Como ela cabe
Dentro do peito.
Colo da ave marinha
Olhos de tentação,
Sempre tão maneirinha
Cabe inteirinha
Num coração.

1 comentário:

Anónimo disse...

olá a todos os marchantes da marcha da grande madragoa desejo a todos muita merda e muita dedicação!